Karmen (Hil Kanpaiak)

No post anterior foi abordado um pouco sobre o filme Hil Kanpaiak (Campanadas a Muerto), cuja trama se passa em um cenário rural, com um contexto sombrio e talvez até opressor, cercado também de uma mística e simbolismo religioso, onde segredos escondidos nas famílias e conflitos são parte importante da história.

Nessa trama, Itziar Ituño interpreta Karmen. Ela é a matriarca da família e funciona como o pilar fundamental do filme, uma vez que todas as tramas, decepções, vinganças e mortes giram em torno dela.

Conforme explicado no post anterior, o diretor Imanol Rayo retrata um família condenada por fatos ocorridos no passado, os quais o filme conecta com o presente através de digressões por meio de uma montagem construtiva, a ancoragem da câmera que prioriza espaços, rostos e símbolos sobre as ações, razão pela qual os objetos assumem uma solenidade como sugestão. Os movimentos de câmera estão ausentes, então quando Karmen coloca os crucifixos em sua casa, vemos apenas sua mão e quando Néstor a retira também. O plano é o mesmo, mas podem ter passado mais de 10 anos entre um e outro e a câmera continua no mesmo lugar, de tal forma que a câmera e o olhar atuam como testemunhas da passagem do tempo, destaca Ager Mendieta (Revista Mutaciones).

Quando vemos Jesus sofrer na cruz, Karmen sofre através da montagem; quando o cacarejar das galinhas é incessante, a família está prestes a explodir, e a imagem de uma mulher nua contra a parede pode desencadear a vingança em toda a cidade. Karmen testemunha a crueldade sofrida ao longo dos anos na cidade e seus olhos, suas rugas, sua expressão moldam o dano e a tortura, a dor e a angústia. O close de seu rosto é a imagem do filme, o sentimento de um povo inteiro. - Ager Mendieta.

O filme nos mostra a existência de uma linha tênue entre vingança e justiça, bem como os valores que provocam os movimentos de seus personagens. "Mostra uma cidade quebrada por uma moral cristã que transforma os personagens em monstros" e ao combinar o suspense rural com um elementos poéticos do cinema, "alcança uma proposta firme e sólida, baseada no uso do mecanismo cinematográfico do plano estático para narrar uma ficção majestosa", tendo como um "cruel resultado" conhecer os sentimentos dos personagens através do olhar e o som de um sino (Ager Mendieta).